Me separei. E agora?
Uma das “heranças” deixadas pela pandemia, foi o significativo crescimento de pedidos de
divórcio no sistema judicial, assim como observado na prática clínica, um aumento da procura
por psicoterapia motivada pelo fim de um relacionamento.
Ainda não há pesquisas com conclusões robustas para justificar esse fato, no entanto, algumas
hipóteses podem ser consideradas.
A quarentena exigiu das pessoas mudanças bruscas de rotina, impondo uma convivência mais
próxima e intensa. As pessoas não puderam utilizar mais as idas ao trabalho, academia, happy
hour, como válvulas de escape para que evitassem o enfrentamento das dificuldades no
relacionamento. Sabe-se também, que dificuldades financeiras têm um impacto importante
nas relações afetivas e muitas pessoas foram afetadas nessa área.
Essas são apenas algumas das diversas hipóteses que podem explicar o aumento da separação
entre casais. Mas o que fazer depois disso? Como se reorganizar emocionalmente após a
ruptura de uma relação que perdeu o sentido para você ou para o seu parceiro (a)? Separei
três aspectos importantes nesse momento delicado de vida:
1 – A separação não resolve todos os problemas
Adequar às expectativas é fundamental para que nesse momento de fragilidade emocional,
não haja ainda novas frustrações. Separação é o fim de um ciclo, e com ele diversos conflitos
podem ser atenuados ou perderem o sentido de existir.
Porém, um casal que dividia a mesma casa, terá uma série de decisões para tomar que vão
desde quem fica com o jogo de pratos mais bonito, com o cachorro, até como será feita
efetivamente a divisão de patrimônio. Além disso, vida social, relacionamentos, rotina, tudo
isso precisará ser repensado. Essa reorganização se intensifica caso tenham filhos, porque o
divórcio passa a ser mais complexo quando envolve menores e questões acerca da nova vida
das crianças, exigirão ainda mais “fôlego emocional” do antigo casal.
2 – Há um processo de Luto
Facilmente as pessoas entendem que diante de uma morte, há um processo de luto. Mas esse
processo acontece em qualquer situação de perda e toda separação gera perdas. Considerar
que é um momento de fragilidade emocional, que precisará de tempo para ser elaborado,
reconhecer a existência de uma dor cuja tendência é diminuir gradualmente, são aspectos
muito importantes para auxiliar na superação dessa fase.
3 – Respeite-se
Nosso aparato emocional não reage na velocidade com que gostaríamos. Muitas pessoas são
estimuladas a sair e logo iniciar outro relacionamento, baseado na idéia de que “se cura um
amor com outro”, e nem sempre, emocionalmente esta é a melhor opção. Há etapas
importantes que precisam ser respeitadas nesse processo, o “novo solteiro” leva um tempo
para reconhecer e se estabelecer socialmente dessa forma. Claro que não há uma regra e nada
impede que um novo relacionamento surja em seguida, mas não se cobre de ter alguém com
medo de enfrentar o que pode ser a vida sem seu parceiro (a).