O cérebro apaixonado.
Quando estamos apaixonados ou amando, ocorrem inúmeras alterações a níveis hormonais, cognitivos e sociais. Hoje farei um apanhado de algumas mudanças marcantes que acontecem principalmente no aumento da produção de alguns neurotransmissores.
Os neurotransmissores são substâncias químicas liberadas através de sinapses no nosso cérebro. Essas ativações são constantes e comuns no nosso dia a dia, imprescindíveis para a regulação da nossa existência, no processamento de estímulos sensoriais, construção de pensamentos e para a integração das nossas experiências internas e externas. Importantes para a nossa sobrevivência como espécie, adequação social, emocional e cognitiva enquanto indivíduos.
Nesse fenômeno paixão/ amor, os nossos neurotransmissores são os protagonistas desse espetáculo, o que a maioria de nós chamamos de coração apaixonado, na verdade estamos atribuindo este evento ao órgão errado, o cérebro é o principal responsável por essa orquestra.
Dopamina, combustível da paixão.
Sabe aqueles inúmeros sentimentos e sensações físicas, que oscilam entre extremos de felicidade e prazer, mas e em outros momentos podem gerar até a um mal estar emocional e físico? Por vezes, é até difícil explicar para outras pessoas o que estamos sentindo.
Alguns sintomas mais comuns, como a taquicardia, sudorese, sensação de borboletas no estômago, insônia, aumento de motivação, excitabilidade, necessidade de ter a pessoa desejada (ou as pessoas) por perto, angústia quando a mesma está longe, pensamentos obsessivos. Alguns estudiosos comparam os efeitos da paixão a um estado de demência temporária, devido a intensidade das alterações no funcionamento cerebral. Esses eventos podem ser explicados, principalmente pelo aumento na produção de neurotransmissores, em especial a dopamina, essa agitação química atua mais intensamente em um circuito cerebral de muita importância no desenvolvimentos de percepção de prazer e gratificação, sendo a mesma acionada nos vícios, é o nosso sistema de recompensa. Ou seja, o cérebro em estado de paixão, opera no mesmo circuito dopaminérgico de quando, por exemplo, comemos uma barra de chocolate, recebemos um like na rede social ou até mesmo quando somos dependentes de alguma substância química, como a nicotina, álcool e outras drogas. E não por menos, quando o nosso cérebro está “afogado” em dopamina, por alguma razão, somos afastados da pessoa desejada, essa ação prejudica o nível de produção da dopamina, e por isso sofremos sintomas físicos e emocionais iguais a de uma abstinência. Então nesse momento, a paixão mostra o seu lado mais obscuro do ponto de vista neurocognitivo.
Porém, como tudo na vida costuma ter início, meio e fim, esse fenômeno chamado paixão, também tem os seus dias contados. Estima-se que toda essa agitação química, tenha o tempo de duração de 1 a 3 anos. Em partes, analisando do ponto de vista cerebral, devido a resistência que o nosso cérebro acaba adquirindo aos altos níveis de dopamina, e tende a voltar ao seu estado de homeostase. Do ponto de vista externo, das relações, a mesma pode deixar de ser interessante devido aos conflitos normais que ocorrem nos relacionamentos. O que pode ser uma boa notícia, o cérebro sai de um estado semelhante a uma demência temporária e retorna ao seu estado normal.
Ocitocina, chama eterna do amor.
Mesmo após o nosso cérebro sair do estado de paixão, devido a redução na produção de dopamina, diminuindo a ativação no sistema de recompensa, não significa que seja o final da relação, nessa segunda etapa outro fenômeno tão especial quanto a paixão, pode ser concretizado através do amadurecimento da relação construído pelos laços de intimidade, carinho e bem estar, alguns o chamam de amor.
A dopamina ainda está presente, assim como hormônios sexuais como a testosterona (homens), estrógeno e progesterona (mulheres), porém essa química é potencializada pelo neurotransmissor conhecido como ocitocina (mulheres) e vasopressina (homens). Ela é responsável por manter aquela sintonia entre o casal, auxiliando no aprofundamento das conexões emocionais, estimulada pelo toque, abraços, relações sexuais, objetivos em comum. Então a ocitocina é responsável pela construção de vínculos intensos e de longo prazo.
A ocitocina, por exemplo, é um dos neurotransmissores centrais na conexão mãe-bebe. Liberado nas puérperas através do aleitamento materno, toque e cuidados com o recém-nascido.
Quantas vezes nos apaixonamos ou amamos?
Não existe um limite do número de vezes que possamos experimentar esses fenômenos ao longo da nossa existência, assim como, em linhas gerais, não existe um parâmetro muito bem definido, da maneira, tempo ou intensidade que possamos vivenciar essas experiências. Podemos em uma única relação, com o mesmo parceiro, vivenciar estágios diferentes de paixão/amor, assim como encontrar parceiros diferentes ao longo da vida. Do mesmo modo, fluido, podemos amar alguém e ao mesmo tempo experienciar estar apaixonado por outro (os). Não existe certo ou errado, principalmente do ponto de vista do funcionamento neuroquímico do cérebro.
O que podemos discutir é o quão saudável é a qualidade das relações, assim como o quanto estamos bem para poder desfrutá-la de forma plena.